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O caso Anna O e sua importância para a psicanálise




Fazem 128 anos desde a publicação dos estudos sobre histeria (1893), de Breuer e Freud, onde o caso de Anna O. foi apresentado. Esta foi atendida por Breuer quando tinha 21 anos, e por mais que Freud não a atendeu, acabou por tornar o caso crucial para invenção da psicanálise. Ela apresentava sintomas histéricos, dentre eles, tosse, paralisias diversas, analgesias, distúrbios e alucinações visuais, desorganização da linguagem, mistura das línguas que falava, por vezes mutismo.

Havia dois estados de consciência inteiramente distintos, que se alternavam. Num desses estados ela reconhecia seu ambiente, ficava melancólica e angustiada, mas relativamente normal, no outro tinha “alucinações”, e ficava agressiva.

Com a morte do pai, precisou mudar, ficou no campo, Breuer a visitava a tardezinha, quando ela se encontrava no estado hipnótico, e não conseguia ir todos os dias. Então, quando ia ela descarregava os produtos imaginativos que ela tinha acumulado desde a última visita. No dia seguinte da visita ela ficava calma, mas no segundo dia já ficava irritada e assim por diante. Anna mesmo descrevia o método como “talking cure”, ou seja, cura pela fala, e se referia a ele como “chimney-sweeping, que quer dizer limpeza de chaminé.

A situação só ficou tolerável quando Breuer a trouxe de volta para Viena, e a fazia contar três a cinco histórias por dia, e assim ela voltou ao estado que estava. Quando voltou a Viena, não voltou para mesma casa que adoeceu, e depois de um tempo teve uma piora. Não tinha nenhum dia bom, e por uma semana não disse nada de novo por hipnose, Só dizia de angustias e emoções vividas um ano antes no natal de 1880; quando terminava de dizer sentia um alívio - tratava-se de eventos psíquicos entre julho e dezembro de 1880 e Breuer ressalta que foram estes eventos que produziram todos os fenômenos histéricos da paciente e que quando eles recebiam expressão verbal, os sintomas desapareciam.

Se de manhã ela estava normal, no inverno de 1881, à noite, no segundo estado ela estava no inverno de 1880, se esquecendo de todos os eventos subsequentes. A única coisa que parecia estar consciente o tempo inteiro era a morte do pai. E essa transferência ao passado não ocorria indefinida, ela revivia o inverno anterior dia a dia. Isso durou até que a doença chegasse ao final em junho de 1882.

Embora esse médico não tenha se interessado em avançar na pesquisa sobre a histeria, empolgou-se com o caso; como sabemos, sua mulher ficou enciumada e o pressionou a tirar férias, porém na noite em que Breuer anunciou a interrupção do tratamento, foi chamado às pressas, por conta de a paciente estar numa crise encenando um parto.

O susto de Breuer o fez nunca mais assumir um caso como esse, mas anos mais tarde quando viu Freud expondo sobre a origem dos sintomas histéricos, encaminhou pacientes e o incentivou financeiramente para que continuasse seu trabalho. Breuer reconhecendo a coragem de Freud teria dito: “Sinto-me uma galinha que acompanha o voo de um falcão”.

Freud em 1914 no texto História do movimento psicanalítico, afirma que Breuer foi o primeiro a demonstrar, por meio de uma atitude de repúdio e indignação, o valor de sua tese da primazia do fator sexual na produção das neuroses. De acordo com Freud, a mesma atitude de repúdio que se encontra na origem da dissociação psíquica nos neuróticos também está presente naqueles que são responsáveis em conduzir o tratamento desses pacientes. Dessa forma, o primeiro tratamento em psicanálise foi adiado por causa do recalque daquele que poderia vir a ocupar o lugar de analista.

Patrícia Teixeira Cunha de Miranda


Bibliografia

FREUD, S. Estudos de histeria. Parte II (1) Srta. Anna O. In: Obras completas de Sigmund Freud. Volume II. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

_________. História do movimento psicanalítico (1914). In: Obras completas Volume 11. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.





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